Foram semanas, meses de dúvidas. De angústias. De crises de choro seguidas de certezas absolutas minadas de réstias de incertezas que (eu) transformava em verdades.
Os "nós" que sentia na garganta aliviaram durante algum tempo. Tempo suficiente para acreditar que o caminho por mim traçado era o meu caminho. Que estava certa.
Cada passo que dava era arrancado a ferros, e continuava a dizer a mim mesma que estava onde queria e devia estar.
Olhava para trás e sustinha a respiração. Parecia tudo tão surreal. Como tinha chegado ali?
(...)
Por fim, fechei a porta...
Parecia um alivio, no entanto não o sentia assim.
Sentia-me egoísta. Má. Vazia. Dividida.
Podemos nós definirmo-nos apenas por um acto? Porque a partir dali só me consiguia definir por aquela pessoa. A pessoa que deixou tudo para trás. A que magoou. A que errou.
É engraçado como um único acto nos pode marcar para todo o sempre, mudar completamente a nossa essência. Como se fosse uma implosão do nosso ser...sem possibilidade de voltar atrás.
Não consigo apontar um momento. Um momento em que diga que tudo terminou ali.
Não sei se me deixei levar por alguma coisa que me parecia tão diferente daquilo que conhecia, ou se simplesmente, a dada altura, deixei de usar o bom senso.
Sei apenas que tudo na minha cabeça, na minha vida, deixou de fazer sentido. Parecia presa numa realidade que não era minha, na qual não queria estar, onde tudo o que conhecia até então era-me...estranho.
Quando é que me tinha tornado esta pessoa inerte, com este enorme vazio dentro de mim? Não me conhecia. Sentia que não estava a viver a minha vida. Não me sentia livre, e curiosamente, ninguém me estava a prender senão eu.
Estava tão infeliz em tantos aspetos da minha vida... Por não ser nada do que eu tinha imaginado para mim. Sentia uma enorme dormência e passividade em relação a tudo. Tinha desenvolvido uma capacidade extraordinária para ignorar os problemas, para fingir que não estavam lá, que passou a ser algo natural, para mim.
Ainda hoje, há momentos que para mim são uma espécie de "borrões" no tempo. Pequenos fragmentos de memória que não têm contexto ou aos quais faltam partes.
Sei apenas que queria sentir.
E isso tanto fazia sentido, como não fazia nenhum.
(...)
Escondi-me e fugi como pude. De tudo o que sentia. De tudo o que a minha cabeça me dizia. Do que o meu coração me dizia...