das opiniões
A propósito do falado referendo li esta opinião muto louvável, a meu ver, do jornalista Carlos Mariano no blog aBica.
"Referende-se a Família
Temas fracturantes. É assim que lhe chamam os senhores que querem levar a referendo a questão da co-adopção. A possibilidade de um casal homossexual poder adoptar uma criança. Se for um homossexual solteiro, tudo bem, que ninguém tem nada a ver com isso, agora um par de mariconços ou de fufas…
Os termos são ofensivos, eu sei. Peço desculpa. Estou apenas a reproduzir os mais meigos dos títulos que tenho coleccionado pelas caixas de comentários de redes sociais, blogues ou sites de jornais. Só para contextualizar. Só para que alguns dos brihantes humanistas que ali descarregam o esterco que guardam nas cabecinhas percebam do que estou a falar.
Afinal, falo de filantropos, de seres humanos generosíssimos e preocupados com o bem-estar das crianças que poderão, caso a co-adopção por homossexuais impere, ser, Deus nos guarde…adoptados.
Imagine-se, crianças que estão tão felizes em instituições, abandonadas pelos pais, à partida, heterossexuais (há excepções ao sagrado imperativo biológico, acreditem) serem adoptadas por larilas ou sapatonas. Sim, mais uma amostra do meu levantamento onomástico-vernacular.
Falo de filantropos e humanistas porque os senhores deputados do PSD e a malta que lhes dá suporte ideológico-eleitoral dizem que o que os move são “os direitos das crianças”. Abro um parêntesis para explicar que acredito que a estupidez humana é absolutamente democrática e não escolhe partidos ou cores políticas. Mas, no que diz respeito a questões primas da “moral e bons costumes”, tem pasto largo na Direita do espectro político.
Mas dizia que o que move estas almas são os direitos das crianças, que não são “tidas nem achadas” e que podem ser adoptadas por estes anormais (também gosto muito deste termo).
É, portanto lícito dizer que estes senhores acham que as crianças devem ter “um pai e uma mãe” e não dois pais ou duas mães. Este é, textualmente, o argumento que li repetidamente no safari cibernáutico que empreendi nos últimos dias.
E porquê? Porque é o modelo que garante, acima de tudo, o equilíbrio das crianças. Porque, como toda a gente sabe, Charles Manson, Adolfo Hitler, José Estaline e Jack o Estripador, todos foram criados por casais gays. Ah não? Ok, do Jack não sei, assumo. Mas sabem que nós, pseudo-intelectuais de esquerda adoramos falsos argumentos.
Como a deputada do PS, a Isabel Moreira, que se opõe a um referendo porque, diz ela, as minorias não devem ir a referendo.
Ora essa…e a Democracia?!, brada-se por aí. E os direitos fundamentais?! Então, eu, empregado de escritório, sócio do Benfica, heterossexual, casado e com dois filhos não posso decidir se um casal homossexual pode adoptar? Como se eu não tivesse a ver com isso! Como se isso não fosse fundamental para a minha vida! Cambada de fascistas!
O corte de pensões e subsídios, o aumento de impostos? Não, isso não queremos referendar. Isso não nos diz respeito. Agora se as bichas adoptam…ah, venha de cá esse boletim!
Não, ninguém tem nada a ver com isto. Ninguém se não eles. Os pais e os putos.
Sim, esses. Os putos que enchem as instituições. Para mim, se fosse possível referendar isto, só eles deviam votar. Mas fazemos um exercício: vão à instituição mais próxima e perguntem-lhes. Perguntem aos que lá estão há anos e veem partir os amigos um após o outro, que não se lembram da cara dos pais biológicos, que sonham com um tecto só deles e em ter uma família que os ame. Perguntem-lhes se se importam de ter dois pais ou duas mães. Perguntem-lhes o que é que eles querem.
Temas fracturantes? Experimentem corações partidos. É mais disso que estamos a falar."
É pena não ser esta uma opinião da maioria que gosta de andar por aí a mandar umas postas de pescada, mas é daquelas que vale mesmo a pena ler.