Gostava de concordar mas o máximo que consigo é perceber. Primeiro porque o amor e carinho dado aqui não é o mesmo que o amor e carinho dado na China. Segundo porque os afetos têm género, podem ser dados no masculino e no feminino. Terceiro porque não se pode usar o argumento de que as crianças estão melhor numa instituições do que numa família homossexual porque a obrigação do Estado é assegurar de que as crianças estejam bem em instituições. É verdade que nem sempre consegue isso? Sim, é verdade mas, se é verdade, parece-me pouco coerente corrigir um erro do Estado com uma alteração da lei. Quarto, e talvez o argumento mais válido de todos, porque o melhor para as crianças passa por dar-lhes uma família o mais próxima possível de quem as gerou naturalmente: um homem e uma mulher. Quinto porque ao aceitarmos a coadoção por parte de casais homossexuais, estamos a sobrepor os seus direitos aos da criança. Ainda assim, sou contra o referendo e a favor do casamento homossexual, portanto não me atirem à cara de que sou uma pessoa preconceituosa.
Bem, em primeiro lugar, Bárbara, quando disse "amor é amor aqui ou na China" quis dizer que "amor" é um sentimento universal... Não falava literalmente no carinho dado às crianças chinesas... Agora, se amor tem géneros(?), bem, isso não compreendo mesmo. O amor dado por um pai não é diferente do de uma mãe em aspecto nenhum. Uma criança criada por duas mães ou dois pais não terá nenhuma diferença do que criada por um pai e uma mãe. Aliás, que diferenças poderia ter? Tenho pessoas na minha família que cresceram sem pai, tendo crescido com uma mãe e uma tia. Acha que tiveram uma educação deficiente? Diferente? Não. Então porque uma criança cujos dois progenitores fossem do mesmo sexo seria diferente? O melhor para as crianças é ter um lar feliz, com amor, carinho e todas as condições para crescerem bem formadas e tenho a certeza que existem muitas pessoas que apesar de heterossexuais não conseguiriam dar isso mesmo. Porque nada tem a ver com género ou orientação sexual. Não terei eu o direito de co-adoptar uma filha da minha companheira? E se a minha companheira morrer? A criança vai para uma instituição apesar de ter outra mãe? Isso faz sentido para si? E se fosse o seu filho? Pois...temos sempre de nos colocar no lugar do outro e não nos deixarmos levar por ideias mal reflectidos... E lamento dizer-lhe isto, mas sim, você é uma pessoa preconceituosa.
O amor é universal no sentido em que todos estamos aptos a senti-lo. Mas, a verdade é que a forma como o amor é transmitido a uma criança varia consoante o país onde estamos inseridos. Repara que não é por acaso que a dimensão cultural faz parte da tríade do desenvolvimento da nossa personalidade. Não é só o amor que muda com a cultura, são outras coisas também. Este campo da cultura, vai de encontro aos géneros. Há diferenças muito definidas entre homens e mulheres, em todas as areas. Nos interesses, na maneira de estar e reagir, na forma como olham o mundo, em tudo. A violência, tal como o amor também tem género. Todos sabemos, empiricamente, que os homens quando confrontados com a violência tendem a agredirem-se fisicamente e que as mulheres ficam-se mais por palavras ou, no máximo, puxões de cabelo. Os homens, quando confrontados com um problema, guardam para si e partilham pouco o que sentem mas as mulheres, por contrario, tem uma necessidade de falar sobre aquilo que passa por elas. Como vês, existem diferenças entre os homens e as mulheres, diferenças naturais e de onde, acredito, se consiga tirar daí o equilíbrio ideal para uma criança crescer. Por isso, sim, uma criança criada por duas mães ou dois pais não será igual porque não herdou esse equilíbrio. De uma perspetiva psicologica, posso garantir-te que uma criança que seja criada apenas por um pai ou uma mãe, cria representações mentais da pessoa que lhe falta e, colocarmos uma pessoa em lugar dessa representação mental é, em ultima instancia, retirar-lhe um direito. Não duvido, e acredita que não duvido mesmo, que homossexuais tenham a capacidade de educar uma criança. Não duvido que sejam capazes de providenciar valores, não duvido do amor que possam ter por um filho. Não duvido. E não duvido porque não posso por em causa o amor dos outros. Não posso dizer que X ou Y não consigam dar condições para uma criança crescer. Não duvido mesmo por isso, não duvides que não sou preconceituosa porque não olho para os homossexuais com com desconhecimento pejorativo. O que digo é: O melhor para as crianças é crescerem num ambiente o mais proximo daquele que as gerou naturalmente. Ponto. E é só isso. Não ponho em causa nem duvido de absolutamente nada. Digo isto do ponto de vista das crianças porque são os direitos delas que devem estar em jogo. Se o dissesse do ponto de vista dos homossexuais, acredita que dar-te-ia toda a razão mas, nesse caso, os direitos dos homossexuais teriam de sobrepor-se aos da criança. Perguntas-me o que fazer em casa de morte da companheira? Eu respondo-te que concordo que a criança, nesse caso, fique à guarda do cônjuge e para isso, bastaria criar uma alínea que assegura-se isso. Não era necessário estarmos a coadotar ninguém. Acho que os argumentos que geralmente se usa fariam mais sentido para a adoção do que para a coadoção porque há milhares de crianças que têm pais divorciados e vivem, por exemplo, com a mãe e o companheiro. As crianças crescem a saber isso e não vejo grandes problemas. Num caso desses, também não faria sentido, o companheiro poder coadotar uma criança que não é sua. Como podes ver, o meu preconceito não existe porque não concordo com a coadoção apenas em casos de casais homossexuais.
Desculpe, mas discordo de si mais uma vez, Bárbara. Aparte do que disse acerca da cultura, que me parece bastante óbvio para qualquer pessoa (penso que não percebeu onde queria chegar), quando fala de géneros e das suas diferenças, parece-me nada mais do que uma opinião bastante subjectiva. Aliás, atrevo-me a dizer que roça o cliché e o estereotipo : "Todos sabemos, empiricamente, que os homens quando confrontados com a violência tendem a agredirem-se fisicamente e que as mulheres ficam-se mais por palavras ou, no máximo, puxões de cabelo. Os homens, quando confrontados com um problema, guardam para si e partilham pouco o que sentem mas as mulheres, por contrario, tem uma necessidade de falar sobre aquilo que passa por elas."- Isto, para mim, não pode ser levado a sério pois tal como o que aqui diz pode acontecer, também o contrário. Ou seja, uma mulher é perfeitamente capaz de explicar a uma criança a diferença entre o masculino e o feminino assim como um homem sem ter de fazer uma representação gráfica disso mesmo. Isso seria o mesmo que dizer que um homem viúvo (suponhamos) não seria capaz de explicar à sua filha acabada de entrar na puberdade o que é a menstruação! Todos nós, enquanto seres humanos, somos capazes de perceber e explicar a alguém o feminino e o masculino sem que para isso tenhamos de ter os dois sexos. E aliás, o "reagir com violência" ou os "puxões de cabelos" não são exclusivos para nenhum dos géneros... O facto de a Bárbara achar de que "as crianças devem crescer num ambiente mais próximo possível aquele que as gerou", é a sua opinião. Eu penso que as crianças devem ser felizes e ter uma família com dois progenitores do mesmo sexo não será um obstáculo nesse sentido. E o interesse superior aqui é mesmo o das crianças. E por mim falo. Nada tem a ver com o "temos de ter os mesmos direitos", nada tem a ver com "a bandeira gay". Tem a ver com pessoas que têm o direito a serem pais e crianças que têm o direito de serem felizes, seja com homossexuais como com heterossexuais. Não percebo como um documento de tutor já seria admissível e co-adoptar não. Não faz sentido. Para mim não há motivos válidos para isto não poder acontecer. Aliás, todos os argumentos que são usualmente utilizados estão mais que desmistificados por médicos, e psicólogos, pessoas com bom senso... you name it. A minha opinião mantém-se.